Conheça histórias de quem fez o primeiro desenho na pele depois dos 40 ou 50 anos, e entenda porque isso é cada vez mais comum
Foto: Arquivo pessoal Ampliar
O aposentado Aurélio Righetto, 60, resolveu se tatuar depois que a mulher seguiu os passos da filha
Só no estúdio do tatuador Fábio Satori, em São Paulo, 40% dos clientes têm acima de 40 anos. “Essas pessoas são independentes financeiramente, não precisam mais prestar contas para os pais e têm disponíveis técnicas muito melhores”, diz. Essa procura, segundo ele, se intensificou nos últimos dez anos.
Para Satori, a estrela que a modelo Gisele Bündchen desenhou há alguns anos no pulso, por exemplo, foi fundamental para diminuição do preconceito e popularização da técnica. Hoje, muitos dos seus clientes levam para o estúdio pais e avós que sempre desejaram exibir uma tatuagem, mas só agora se sentiram à vontade para isso.
Foi o que aconteceu com o aposentado Aurélio Righetto, de 60 anos, e sua esposa, a dona de casa Maria Elizabete Righetto, 63. Há oito anos, eles fizeram juntos a primeira tatuagem. A ideia surgiu quando o casal, que mora em Joinville (SC), visitou uma das filhas na cidade de São Paulo. Entre um passeio e outro, foram conhecer o estúdio onde a jovem já havia se tatuado. “Nós começamos a olhar os desenhos e minha esposa, que sempre teve vontade de fazer uma tatuagem, se empolgou e decidiu fazer uma”, conta Righetto.
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Maria Righetto, esposa de Aurélio, mostra a tatuagem que fez depois de visitar um estúdio com a filha
Um brinco na orelha colocado há quatro anos, foi a primeira ousadia feita pelo químico Hamilton Vianna, de 50 anos. Quando sua esposa, 20 anos mais jovem, fez uma tatuagem, ele decidiu que também teria uma. A inspiração para o desenho veio de um adesivo com ideogramas chineses. “Um deles era o símbolo do sucesso. Decidi que queria carregar aquilo comigo para o resto da vida”, conta. A família e os filhos apoiaram a decisão. “A tatuagem está ligada ao espírito jovem que eu tenho”, diz.
O medo da dor foi superado, mas nem por isso ele pensa em fazer outro desenho. Mesmo assim, recomenda que outras pessoas da mesma idade recorram à técnica se tiverem vontade. “A única coisa que aconselho é não tatuar nomes ou desenhos voláteis. O melhor é fazer algo mais neutro, que traga uma energia boa”, diz
Celebração
Foto: Arquivo pessoal
Hamilton Vianna resolveu se tatuar depois de ver a namorada fazer o mesmo
Embora sempre tenha tido vontade de fazer o desenho, o preconceito no mercado de trabalho e a insegurança com a técnica eram empecilhos. Aos 40 anos, porém, sua visão mudou. “Nessa idade você já sabe o que realmente quer”, diz. “Escolhi uma figura que me faz sentir feliz e um lugar discreto que não vai me expor aos preconceitos graves que existem até hoje.”
O resultado agradou tanto que ela já planeja fazer outros quatro desenhos. “Tatuar o corpo é algo fantástico. Permite que você escolha a sua marca.” E essa marca gerou polêmica entre os mais próximos. A mãe e a irmã foram contra. “Minha mãe disse que eu estava muito ‘grande’ pra fazer essas coisas”, diz. “Entre meus amigos, nenhum foi contra, mas muitos me questionaram sobre o desenho, que não é considerado feminino por ser um dragão muito grande. O preconceito ainda existe”, diz.
Foto: Arquivo pessoal
O desenho criado por Ivete para comemorar seus 50 anos
A cabeleireira Ivete Lang, 52, elaborou, ela mesma, a tatuagem que fez há 3 anos. Composto de um coração (que representa o amor), asas (que representam a liberdade) e flores (que representam viagens), o desenho foi feito após muito planejamento para celebrar seus 50 anos.
“Sempre tive vontade de fazer, mas, quando era mais nova, achava que poderia me atrapalhar. Agora que estou mais velha, posso tudo”, diz. Os dois filhos, um deles também tatuado, apoiaram a iniciativa da mãe. Já o marido levou um susto. “Ele não acreditava, queria me matar”, conta, entre risos.
A região das costas foi escolhida estrategicamente, para evitar que o desenho se deformasse com a flacidez natural da pele ao longo dos anos. Embora tenha vontade de fazer outra - um ramalhete de flores, atrás da orelha -, decidiu que vai manter apenas uma. “Tatuagem é bonita, mas enjoa”, diz. Mas incentiva quem tem vontade. “Tem mais é que fazer. O bom da maturidade é ter certeza do que se quer, sem tentar causar qualquer tipo de impressão ou precisar dar satisfação para ninguém.”
Foto: Arquivo pessoal/ Lilian Nakashima Ampliar
Tuca Figueira comemorou o aniversário de 40 anos com um dragão nas costas
Para o tatuador Sérgio Pisani, do estúdio Tatoo You, os clientes mais velhos procuram satisfazer um desejo que carregam desde a adolescência. “Quando eles eram jovens, tatuagem era coisa de marginal. Agora que eles podem fazer, aproveitam para tatuar desenhos que eram populares naquela época”, explica. Escorpiões, caravelas, dragões e fênix são os mais escolhidos entre os clientes de Pisani nessa faixa etária. A preferência é por figuras grandes.
Não há nenhuma recomendação especial para quem deseja fazer tatuagem na maturidade. Tampouco a flacidez e as rugas que tendem a surgir na pele com passar dos anos são problemas. "O que fazia a tatuagem estragar com o tempo, no passado, era a qualidade da tinta. Hoje, elas evoluíram muito e, se não tomar sol no local, a tatuagem fica perfeita para sempre.”
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