Aposentada de Conduru teme dormir como piauiense e acordar cearense.
Moradores do distrito foram recenseados pelo IBGE como de Granja (CE).
Da casa da moradora Francisca Cardoso, localizada no distrito de Conduru, é possível avistar a região
serrana da cidade de Granja, no Ceará (Foto: Giselle Dutra/G1)
serrana da cidade de Granja, no Ceará (Foto: Giselle Dutra/G1)
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Os moradores do distrito de Conduru, que consideram o lugar parte do município piauiense de Cocal, foram surpreendidos com a notícia de que a área pode ser entregue à cidade de Granja, no Ceará. Quem mora no povoado não quer deixar de ser piauiense. “Não entendo. Era Piauí. Aí veio o recenseador do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] e disse que era Ceará”, reclama a aposentada Francisca Aguiar Silva Cardoso, de 66 anos.Francisca teme dormir no Piauí e acordar no Ceará, embora utilize serviços do estado vizinho. “Seja feito o que Deus quiser. Um susto a gente deve tomar, mas dá para ir se aguentando”, afirma. Quando precisa de médico, ela vai aos municípios de Sobral ou Viçosa do Ceará, onde moram os filhos dela. “Tenho medo de ir aos hospitais no Piauí. Mas tem uns bons em Parnaíba (PI) também”, diz.
Apesar disso, Francisca sente orgulho e quer continuar a ser identificada pelo IBGE, pelos governos e pela comunidade como piauiense. “Eu me sinto piauiense e quero continuar assim. Se eu resolver ir morar no Ceará, eu vou. Mas, por enquanto é isso. Aqui é meu canto”. “A gente nem sabe se é Ceará ou Piauí. Enquanto isso continua Piauí porque tem colégio, posto, energia do Piauí”, explica a aposentada.
Agricultor Edimar Alves teme que comunidade fique
abandonada com mudança (Foto: Giselle Dutra/G1)
A segurança no local é feita pelos próprios moradores. “Polícia aqui é precária. Não tem posto policial. Aqui é a comunidade que se ajuda”, diz o agricultor Edimar Alves de Oliveira, que faz “bico” como pedreiro na casa de Francisca. Os dois afirmam que Conduru fica a mais de 50 quilômetros de Granja e que o acesso é difícil. “Não tem nem lógica aqui passar a ser Granja. Se para Cocal é ruim, imagine para Granja”, diz Oliveira.abandonada com mudança (Foto: Giselle Dutra/G1)
Para o agricultor, o distrito vai ficar abandonado se for entregue ao município cearense. “Pode ser o melhor prefeito do mundo, que não vai conseguir dar atenção para a gente”, afirma. Oliveira ressalta que os serviços públicos são precários. “Na verdade, ninguém é atendido por ninguém. Se você vai a um posto de saúde, não tem nem dipirona nem médico”, reclama.
Mesmo assim, ele prefere pertencer a Cocal e lutar pela melhoria da comunidade através do seu voto e dos seus direitos. “A gente quer continuar sendo Piauí, porque é mais fácil do que ir para Granja. Agora, a gente quer um governante que faça algo. Porque se tem um problema, a gente vai para Viçosa (Ceará), que não tem nada a ver com a história”, disse.
IBGE
Em ofício de janeiro de 2011 aos municípios, o IBGE fez uma divisão das regiões referente ao Censo de 2010. As localidades de Boqueirão do Cercado, Baixa do Cedro, Pau Ferro, Oitizeiro, Picui, Socorro, Sabiazal, Santa Cruz, Córrego do Lino, Limoeiro, Limoeirinho, Boaçu, Puxi e Lamarão estão no território de Granja, no Ceará. Os povoados de Olho d'água dos Costas estão divididos entre Viçosa do Cearáx e Granja. Já Sumaré foi inserida no território de Cocal, no Piauí.
As áreas onde a indefinição é mais crítica concentram 5.528 habitantes, espalhados por oito distritos. Conduru, Palmeiras dos Ricardos e Grota, estão em Granja, no Ceará (1359 pessoas). Jaboti e Tucuns foram parte para Granja (1359) e parte para Cocal, no Piauí (312). Deus me Livre (526), Sumaré (257) e Campestre (1715) ficaram no Piauí.
Prefeitura de Cocal
O prefeito de Cocal, no Piauí, Fernando Sales (PSB), disse que há um problema na contratação de médicos para a região do Conduru, conforme reclamado pelos moradores. “O Ministério Público está batendo muito no Piauí, para os médicos trabalharem 40 horas semanais. As equipes de Campestre, que trata de Conduru, foram perdidas porque não tem médico que aceite trabalhar lá por 40 horas semanais e receber o mesmo valor, de 16 horas, que é de R$ 6 mil”.
Fernando Sales diz que está aguardando que se regularize a situação e alegou que, ao cair o número de equipes médicas, cai também o repasse de medicamentos para a região. De acordo com ele, a área está como se fosse Ceará.
“Granja não queria e agora já quer. Lá, a gente está botando, mesmo na dificuldade, duas escolas e médico. Lá, os professores estão sendo pagos com o dinheiro de Cocal. Merenda é com Cocal. Mas é Granja que está recebendo o recurso pela área, para a saúde e educação”, diz o prefeito do município piauiense. Ele informa ainda que Cocal perdeu cinco equipes de profissionais de saúde.
Prefeitura de Granja
O atual prefeito de Granja, João José dos Santos (PSDB), afirma que dá assistência à área localizada nos limites com Viçosa do Ceará, com professores, merenda escolar e posto de saúde. Mas afirma que não tem informação sobre a área de litígio com o Piauí.
Ele tomou posse há cerca de 20 dias, após decisão judicial que afastou o prefeito Hélio Fontenele Magalhães (PSDB) por suspeita de fraude de licitações e desvio de dinheiro público. O prefeito afastado não atendeu às ligações do G1.
fonte g1
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